Um livro tão especial que sentimos como se o personagem, David, fosse um amigo querido. Por quê? Porque ele nos conta toda a sua história — muito conturbada — desde o momento em que nasce.
Digo que a história dele é muito conturbada, porque, já na infância, passa por algumas vicissitudes e dificuldades: a mãe de David adoece; ele passa a viver com um padrasto cruel; depois, estuda em uma escola ainda mais cruel e, aos 10 anos, trabalha em uma fábrica enquanto vive sozinho em Londres.
O fato de trabalhar em uma fábrica durante a infância reflete a época em que o livro foi escrito (1849-50), a Era Vitoriana. Apesar de ter sido um período de grande prosperidade econômica no Reino Unido, apresentava condições de trabalho insalubres e, nesse sentido, o trabalho infantil no Reino Unido era frequente.
E, além disso, revela outra característica importante do livro: é muito autobiográfico. O próprio autor do livro, Charles Dickens, passou por uma situação parecida quando era criança, trabalhando em uma fábrica quando tinha 12 anos. Também, há outras coincidências entre o personagem David e o autor. Por exemplo, ambos aprendem a arte da taquigrafia e são escritores.
Ainda sobre o contexto histório, outros aspectos da Era Vitoriana podem ser notados, como o conservadorismo, a desigualde social e a forte distinção entre as classes sociais. As diferentes realidades podem ser comparadas por meio dos personagens Steerforth e Sr. Peggotty, por exemplo.
Porém, o ponto principal do livro é menos mostrar as dificuldades da época do que relatar o crescimento e amadurecimento de David Copperfield. Em cada etapa da vida e na companhia de tantos personagens queridos — a sua tia, Traddles, Agnes e tantos outros memoráveis —, David ganha consciência de seu “indisciplinado coração”.
No início, ele mesmo diz:
“Se serei o herói de minha própria vida, ou se essa posição será ocupada por alguma outra pessoa, é o que estas páginas devem mostrar”.
E que páginas! Repletas de beleza, metáforas, sinestesias e sentimentos. Uma história que vale ser lida.
Até logo,
Júlia.